Ovo cósmico
*Por Artemísia
"Um dos homens que estava ao lado de Xerxes disse-lhe: 'Mestre, veja Artemísia, como ela está lutando bem e como ela afundou agora mesmo um navio inimigo' e Xerxes então respondeu: 'Meus homens se tornaram mulheres; e minhas mulheres, homens'. Nenhum membro da tripulação do navio calíndio sobreviveu para poder acusá-la".
Ouço Xerxes com seu brilho prata me chamando.
Contínuo, persistente.
Me identifico pois reconheço esse brilho prata!
De quem sabe usar o ouro do silêncio
E a prata da palavra.
Conversamos através de músicas.
Sim! De músicas!
Ouço seu chamado.
Ouso dizer que espaço e o tempo são relativos, então minha família me chama
Só que de outro Estado.
Quero que cante mais alto! as almas estão se levantando!
Você me diz que não é o volume, mas o timbre e a cor da nota e me pede: anota com cor o amor, escreve de pluma e arrota, e eu amo
Amo que mesmo longe, já me ensina a compor
Essa melodia, nossa, tão longínqua.
Estou na trilha, és a saída e a porta de entrada.
Você quem me fez escolher novamente a estrada. Uma alma cigana antiga agora embalada
Nos conhecemos no deserto, não foi?
Você quem colocou o búzio negro na palma de minha mão?!
Espero a lua para falar com você e o menino, Mesmo que à distância,
A Lua envia nossas mensagens.
Até o que não digo, ela sabe traduzir.
Nos comunicamos de noite pela fragrância e a maresia de antes nublou meus óculos. Nossas almas são tão antigas que Hécate lembra-se dos nossos festivais de agradecimento de tempos imemoriais, mas memoráveis.
Tenho a impressão que me recordo dessa história. A memória irrompeu bruscamente e vieram recordações. Por outro lado, meu corpo, um tanto debilitado, está se recuperando da febre. Estamos nos preparando para essa guerra sob o céu estrelado. Artemísia já lutou ao teu lado. Você sabe quem chefia a matilha de lobos solitários, você conheceu Maria Bonita do cangaço, e sabe que aqui, palpites são fatos.
Vem de dentro.
Afiaremos de poesia as lâminas das espadas. Tudo combinado.
Só me avise caso precisemos roubar raios.
Não precisa… Já sei que será necessário…
Afinaremos de ouvido bumbos, liras e chocalhos. Pois cortamos o mal com a lâmina da navalha, não é mesmo querido Zé?
Já ensaio meu canto em forma de rezo para curar os feridos.
Adorei as almas e elas me adoraram de volta. Danço com uma umbrella arco-íris espalhando luz entre passos e pergaminhos. Iluminando o passado.
Nanã Buruque me deu as chaves do destino. Ogum, o passo determinado da vitória.
Disseram vai lá amanhã: canta, dança, renasce a criança que precisa brincar e lutar com amor.
Acendo as velas e desligo as luzes,
agora vejo com clareza.
Fecho os olhos e vejo com mais cores
A atmosfera de cada esquina.
Como me pediste:
Levarei as três bandeiras
Vermelha e negra, das cores da justiça
Já lhe disse que vou
E você de novo me responde por música: que gosta mais de mim quando lhe digo que venho.
E lhe digo que se prometi e se foi por amor que já está feito.
Nossas palavras tem o valor e a cor da prata
Ouça o Murica, ele acordou minha alma
Nos pechamos pela estrada
Agora com a ank de Ísis a pluma anda alada
Na ausência de tinta escreverei com adaga
Me pergunto se foi sonho ou se ainda está sendo. Sei o caminho certeiro, mas só preciso escrever pra ter certeza que ainda estou viva. Bebi da fonte, eles me chamaram para assumir meu posto na guerra. Escreverei sobre coragem para encobrir a resina da ausência que é a ferida. Já que não há espaço entre nós para medos, apenas para luz divina. Levarei os elementais da terra na bolsa para curá-la. Cumprirei a promessa.
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