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Mostrando postagens de outubro, 2024

A liberdade em pombas

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  *Por  M. Helena B. Crossetti Naquele início de uma tarde fria e ensolarada de inverno, enquanto a irmã de meu pai trançava meus cabelos, eu ouvia o farfalhar das árvores. Os dedos acariciando minha cabeça, o sol aquecendo minha pele fria pelo vento, o rádio ligado e o cheiro da comida no fogo, todo aquele instante, como um todo, me fizeram pertencente ao espaço do tempo que chamamos de presente. Fechei os olhos na tentativa de saborear cada sensação, principalmente o senso de completude que me atingiu como um relâmpago descido do céu.  Eu já havia sentido completudes como aquela, mas sempre duravam meio momento e logo desapareciam, quase como se nunca tivessem existido. E essa rapidez me fazia acreditar que todos os infinitos eram precoces e passavam velozes demais diante dos olhos pelos quais enxergamos a vida.  Agora eu vejo as pombas cantando mais adiante. Não as vejo com os olhos, embora suas vozes me levem a vê-las nitidamente através do que consigo imagin...

O sofrimento egotista da sociedade contemporânea

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  *Por Lucas Berton Os seres humanos no seu atual estágio evolutivo são hipócritas (as relações pré-históricas e antigas são mais animalescas e, talvez, por isso mesmo, mais sinceras e espontâneas). No momento que a moral se dissocia do campo religioso e "animal", tal como era na Idade Antiga e medieval, surge o individualismo Ocidental; e, com ele, a possibilidade da hipocrisia mais degradante. A sociedade atual está acostumada a falar uma coisa e a fazer outra (todas as religiões patriarcais fazem isso). Diz, genericamente falando, sofrer por uma determinada razão, mas logo "abraça" a mesma razão que critica. Fica triste e perdida quando esta razão lhe é tirada por desmascaramento de argumentos ou da própria realidade. Em síntese: os seres humanos atuais gostam e precisam do sofrimento  —  ainda que os repudiem em palavras. Parte integrante desse sofrimento é reclamar e chorar, mas sem procurar mexer nas causas deste sofrimento. E estes mecanismos passam do campo...

Inautenticidade

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  *Por Hector Marques Em uma sociedade de intensa inautenticidade, acabo buscando algo para me espelhar, quiçá pegar para mim ideias, opiniões e concepções de outras pessoas, com o objetivo de achar que aquelas coisas me representam, já que, quando não se é nada, torna-se fácil ser qualquer coisa. E, ao perceber que todos aqueles conceitos e pensamentos que, por um momento, idealizei como sendo meus são, na verdade, de terceiros, volta em mim a seguinte questão: quem eu sou?”.

Travessia com dois Vs pelo Guaíba

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"CHALÉ", xilogravura, 37x27cm, tiragem 14/2O. Arlete Santarosa, (Bento Gonçalves, 1945). *Por Ethon Fonseca É isso mesmo, Amir Klink maquilaram onde o rio tinha matas ciliares com parquinhos temáticos despejos nos seus afluentes quando bastaria olhar dele para os movimentos de urbanitas com seus olhares, seus avisos a navegantes,  simbólicos ou de canto, do dia ou  do tempo em que não se podiam dizer certas coisas  mas talvez já cantá-las: "navegar é preciso, viver não é preciso".  Então era isso mesmo: entre tantas bandeiras,  leis e nebulosas de fumaça alarmando em brasis  para além do sangue em fronteiras agrícolas  e boiadas sem moitas regulamentares sequer,  que dirá sanções aos que jogam tanta fumaça  nos seres e olheiros de movimentações  humanas como desde as que pretendem nos fazer fugir de balas  e atoleiros, pirulitos às bocas ou entre jet-skis e escrotos ou nos segurar durante a ressaca das ondas de rios aéreos  a i...