A liberdade em pombas

*Por M. Helena B. Crossetti Naquele início de uma tarde fria e ensolarada de inverno, enquanto a irmã de meu pai trançava meus cabelos, eu ouvia o farfalhar das árvores. Os dedos acariciando minha cabeça, o sol aquecendo minha pele fria pelo vento, o rádio ligado e o cheiro da comida no fogo, todo aquele instante, como um todo, me fizeram pertencente ao espaço do tempo que chamamos de presente. Fechei os olhos na tentativa de saborear cada sensação, principalmente o senso de completude que me atingiu como um relâmpago descido do céu. Eu já havia sentido completudes como aquela, mas sempre duravam meio momento e logo desapareciam, quase como se nunca tivessem existido. E essa rapidez me fazia acreditar que todos os infinitos eram precoces e passavam velozes demais diante dos olhos pelos quais enxergamos a vida. Agora eu vejo as pombas cantando mais adiante. Não as vejo com os olhos, embora suas vozes me levem a vê-las nitidamente através do que consigo imagin...