O sofrimento egotista da sociedade contemporânea
*Por Lucas Berton
Os seres humanos no seu atual estágio evolutivo são hipócritas (as relações pré-históricas e antigas são mais animalescas e, talvez, por isso mesmo, mais sinceras e espontâneas). No momento que a moral se dissocia do campo religioso e "animal", tal como era na Idade Antiga e medieval, surge o individualismo Ocidental; e, com ele, a possibilidade da hipocrisia mais degradante.
A sociedade atual está acostumada a falar uma coisa e a fazer outra (todas as religiões patriarcais fazem isso). Diz, genericamente falando, sofrer por uma determinada razão, mas logo "abraça" a mesma razão que critica. Fica triste e perdida quando esta razão lhe é tirada por desmascaramento de argumentos ou da própria realidade.
Em síntese: os seres humanos atuais gostam e precisam do sofrimento — ainda que os repudiem em palavras. Parte integrante desse sofrimento é reclamar e chorar, mas sem procurar mexer nas causas deste sofrimento.
E estes mecanismos passam do campo pessoal para o campo social — e vice-versa. Como "mecanismo" acaba se institucionalizando — seja na política; seja no campo religioso, familiar, etc.
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Quando as pessoas estão bem de saúde, a tendência é que a hipocrisia se reforce de distintas formas. Quando a saúde está abalada — seja a nossa ou a de familiares —, tendemos a olhar as coisas de forma diferente. Passamos a ser mais "verdadeiros" e a valorizar as relações humanas de uma forma diferente.
A mesmície da vida com saúde reforça a aparência do "longo prazo", a rotina, o tédio, tendendo a reforçar a hipocrisia, a falsidade, o falso andamento das coisas. A proximidade da morte — ou o seu simples aceno — mexe com tudo isso e nos obriga a olhar a "verdade" e as coisas que nos são inconvenientes, mesmo que a hipocrisia possa persistir de uma forma ou de outra.
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