As mulheres não conhecem partida
*Por Daniela Godolphim
Essa força avassaladora que cresce junto da barriga, essa coisa de bicho que nos invade ao parir a cria, ao alimentá-la, que meio que enlouquece as ideias, essas coisas de mulher que tem filho, difíceis de serem postas em palavras. De repente uma minúscula vida pulsando sobre nós, implorando para ser amada e não morrer. A natureza aos gritos de três em três horas.
Ninguém me contou que eu morreria quando minha filha chegasse e que outra de mim nasceria em meu lugar. Minha avó, minha mãe, ninguém. Eu descobri sozinha que nunca mais seria eu e ser eu não era exatamente coisa que eu soubesse, ainda não. Aos dezenove anos ainda não se sabe.
Tinha algo estranho no meu rosto, no meu nariz e meu corpo havia se transformado numa coisa pequena e magra. Eu chorava de sono e diziam que eu precisava dormir para ter leite. Todos no hospital perguntavam: - Onde está o pai? O pai não virá visitar? E eu me perguntava onde ele estaria, porque não atendia ao telefone?
Ainda não sabia que muitos homens iam embora com desprendimento e quase sempre sem culpa.
Eu estava só. Era como me sentia. Imensamente só. Diziam-me que nunca mais me sentiria assim quando ela nascesse e não sei de onde saem essas frases que se repetem, mas essa era uma grande mentira.
Nos momentos pequenos, de coisinhas miúdas e delicadas, era quando mais me doía. Não ter com quem compartilhar a poesia de se ter um filho é coisa doída demais.
Ficamos nós, ela e eu. E foi a coisa mais difícil e mais bonita que eu já vivi. A vida nos dá muito medo e nós aprendemos a ter coragem. As mulheres não conhecem a leveza da partida.
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