Agradecimento aos meus dentes


Os escritores do tempo de agora fazem os mais diferentes agradecimentos na abertura de seus livros. Há os que se curvam aos reis pelo soldo que os mantém no ócio. Os que reconhecem a importância de suas esposas por lhe trazerem vinho nas noites frias e os que louvam o deus de Abraão, Isaque e Jacó pela criação do mundo, sem o qual, reconhecem mui sensatamente, não teriam muito do que falar.

Eu, porém, como estou a escrever uma carta e não um livro, agradeço apenas a esta dúzia de marfins amarelados que ainda se prendem à minha gengiva, feitos para sorrir às senhoras, arrancar as rolhas das garrafas, morder os inimigos e rasgar a carne, de modo que, sem eles, não procriaríamos, não beberíamos, lutaríamos pior e morreríamos de fome. Aos dentes, fiéis companheiros, devo minha demora nessa mundo, pois bem penso que a vida é tão somente um susto entre o nascer e o morrer, e, às vezes, para alargar o caminho entre o berço e a cova, vale mais o afiado canino que a aguda filosofia.

***

Isso é o verdadeiro materialismo que os comunistas de carteirinha não entenderam.
Todo o materialismo preenche toda a estrutura.
Nada escapa.
Os dentes são um reflexo da estrutura.
Alguns não brigarão para que o negro tenha seu lugar na psicóloga.
Apenas lamentarão.
Para outros, a dor será pequena.
E nem falarão ou perceberão a quantidade de brancos em relação a negros.
Está bom para eles.
Ou não arriscariam o pescoço.
Desde a guilhotina.
Esses são os intelectuais de carteirinha.
Felicidades.
Comer primeiro.
A moral depois.

Paulo de Quadros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A liberdade em pombas

Humphry Morice

A queda do muro de Berlim na sala de casa