Notificações

 


*Por Lucas Berton

Parte da ansiedade dos tempos modernos não está apenas no ritmo industrial de trabalho ou na rapidez das redes sociais, mas na imposição de respostas imediatas, como a que nos exige a rapidez da internet e se expressam nas notificações avermelhadas dos celulares e das redes sociais.

As notificações exigem respostas e somos lembrados disso permanentemente pelas telas iniciais dos nossos celulares. Como as comunicações se tornaram muito mais rápidas do que eram as relações sociais pré-internet e pré-celular, elas exercem uma pressão psicológica muito grande e clamam por uma solução. Um encontro ou uma carta, que demorariam dias, semanas ou meses, agora desenvolveram um ritmo quase instantâneo de respostas, ao ponto de gerar ansiedade e depressão caso nossas mensagens não sejam vistas ou respondidas quase que instantaneamente.

Os marcadores de “recebido” e “visto” no whatsapp, ou as estrelas de avaliação e as curtidas, se tornaram mecanismos feitos sob medida para nos seduzir e nos tensionar. Basta ir consultar o horário ou alguma outra informação que procuramos no celular e, de repente, nos deparamos com uma “notificação atravessada” e a nossa atenção se desvia completamente.

Uma consulta no celular que deveria durar 30 segundos acaba se tornando 1h, 1h30min, 2h!

Pululam perante nossos olhos diversos vídeos muito engraçados, terrificantes ou “instrutivos”; propagandas e ofertas tão incríveis que acabamos por esquecer o que íamos fazer. Não é de se estranhar que o déficit de atenção se torne um problema cognitivo do nosso tempo.

As grandes empresas conhecidas como Big Techs — tipo Meta, X, google, Apple, Amazon, etc. — estudaram e estudam permanentemente as nossas reações e desenvolvem formas de notificações cada vez mais sedutoras, baseadas nos algoritmos que alguns clicam ingenuamente.

Esta escravidão mental contemporânea é, em grande parte, voluntária. Ela reforça o déficit de atenção, a fuga da realidade e o auto aprisionamento, quase como uma hipnose individual e coletiva que, provavelmente, daqui a algum tempo, já estará nos ordenando o que fazer ou não…

Quem duvida que pague pra ver.

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