As conveniências e inconveniências do movimento feminista

 


*Por Lucas Berton

O movimento feminista é um movimento fundamental da contemporaneidade, apesar de todos os seus adversários e inimigos declarados e não declarados. Sua busca por igualdade social foi e é fundamental para a sociedade atual.

No entanto, assim como se faz com qualquer movimento, cabem reflexões críticas para aprofundá-lo e repensá-lo sempre que algumas contradições emergem.


Muitas vezes observei a prática e, também, debati com representantes e partidárias do movimento feminista que afirmavam, a grosso modo, que a mulher “pode dar para quem estiver a fim, na hora que estiver a fim”.

Não quero reduzir a indiscutível importância do movimento feminista para a humanidade a este ponto, mas é um bom exemplo de como pensam e agem muitas das atuais ativistas do movimento — sobretudo as influenciadas pelo “identitarismo” —; e como esta questão tende a se tornar uma contradição inconveniente.

Em última análise, qualquer mulher dá para quem quiser na hora que quiser, muito embora isso não esteja livre de consequências — às vezes, muito nefastas.

Ainda que a responsabilidade central pelos estupros recaia sobre os homens — o que está fora de questão —, se as mulheres escolhem “dar para quem quiser na hora que quiser”, disso não resulta nenhum nível de responsabilidade por tais ações e escolhas? Aqui estou excetuando os casos bizarros que envolvem crianças e a utilização da força bruta indiscriminada pelos homens, mas me refiro, especificamente, à vida noturna, às festas e determinadas relações abusivas que se desenvolvem nestes e noutros ambientes. Em síntese: estou me referindo aos casos que há possibilidade de algum tipo de escolha e que envolve o pensamento de “dar pra quem quiser, na hora que quiser”.

Como isso pode ficar livre de determinadas consequências nefastas?

Por exemplo: se uma mulher está a fim de dar para um cara qualquer, ela sabe qual é a conduta deste cara ou segue apenas o instinto, que jamais pode ser questionado? Os seus feromônios? A vontade de “dar” está acima de qualquer outro fator de risco ou de responsabilidade?

Questionar estas inconvenientes questões seria um sintoma de machismo ou um trabalho crítico pertinente?

Se, por ventura, uma mulher sente atração por um indivíduo que vive na noite, procurando mulheres para transar, sem nenhuma preocupação maior do que o seu próprio prazer, e ocorre o envolvimento, “dar para ele” reforça o seu “direito feminista de dar pra quem quiser na hora que quiser” ou reforça o machismo latente deste indivíduo em particular e da sociedade patriarcal em geral?

Para determinados tipos de argumentos e reações exaltadas, pode parecer que não interessa saber se o homem é “alfabetizado” ou mesmo sensível às mínimas questões feministas; ou ainda: se sua sensibilidade é apenas de fachada para atingir o fim da conquista da mulher e do sexo que ele almeja, como muitas pessoas que despontam nos movimentos sociais e na vida noturna da sociedade atual. Só interessa que ele saiba foder e atingir o prazer naquele momento, sem saber o que pode acontecer durante e depois do prazer?

Onde isso nos leva e o que pode reforçar?

Vale tudo em nome da suposta 
libertação feminista, afinal de contas?

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