O futuro é ancestral: o Guaíba é ancestral!


Respeitem a água e aprendam a sua linguagem.
Vamos escutar a voz dos rios, pois eles falam. Sejamos água, em matéria e espírito, em nossa movência e capacidade de mudar de rumo.
Ao transformarmos água em esgoto ela entra em coma, e pode levar muito tempo para que fique viva de novo.
Esse exercício de escuta do que os cursos d'água comunicam foi produzindo em mim uma espécie de observação crítica das cidades, principalmente as grandes, se espalhando por cima dos corpos dos rios de maneira tão irreverente a ponto de não termos quase mais nenhum respeito por eles.
Pois, é preciso dizer, esses rios que invoco aqui estão sendo mutilados: cada um deles tem seu corpo lanhado por algum dano, seja pelo garimpo, mineração, [agronegócio], pela apropriação indevida da paisagem.
Depois de 50 anos vendo gado, gente e máquina pisoteando o solo, o rio se cansa. Sim, pois quando a paisagem se torna insuportável, o rio migra e conflui para outras viragens.

[Ailton Krenak — Futuro ancestral]

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