Quem se importa com a Mariazinha?
*Por Lucas Berton Toda manhã quando saio pra trabalhar, pelas 6h55min, vejo a Mariazinha sentada no saguão do meu edifício. Quem é ela? O que ela está fazendo ali se ela não mora no nosso prédio? Não sei. Mariazinha é uma anciã muito frágil. Deve ter entre 65 ou 70 anos. A sua aparência repele todos aqueles que vivem obcecados pelas aparências “bonitas” na sociedade do consumo, pelos rótulos, pela fama. É patologicamente corcunda — lembra o seu homônimo de Notre Dame — e visivelmente cansada e sofrida. Talvez ela tenha ficado com a chave do portão desde aquelas vezes que fazia faxina para a vizinha do apartamento 12 — e, então, quando está indo para outro “compromisso” pelas 6 da manhã, ela para no nosso edifício para sentar e descansar um pouco, já que caminha com grande dificuldade. Ninguém se importa com ela. A sua morte em vida não comove ninguém. Ela não grita, não pede socorro, porque deve estar anestesiada pelo costume de ser ignorada, colocada em segundo...