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Arte e pornografia

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*Por André Castro É Hera (como as convenções sociais etc.) que  costuma   “ endireitar” os trançados da imaginação.  Hera atribui o  “ priápico”, o  “ bizarro”, o  “ deformado”,  “ feio” etc. à  “ toda consciência imagética rigorosamente ereta, aquela excitação ou despertar da imaginação que a pornografia tenta realizar. ”   James Hillman escreve que a pornografia acaba sendo culpada pela   “ violência masculina, pelo espancamento de esposas, excessos sexuais e distorções não naturais, degradação de mulheres, molestação de crianças e estupros… Toda essa argumentação é parte da maldição atribuída ao priápico por Hera e por seus agentes no domínio do doméstico, do comunitário, do social ” . Muito de encontro à essas ideias são os curiosos comentários da Camille Paglia sobre a pornografia: “ O feminismo, argumentando a partir da opinião mais branda da mulher, ignora por completo a sede de sangue no estupro, o prazer da violação e ...

Arte e responsabilidade

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*Por Mikhail Bakhtin Chama-se mecânico ao todo se alguns de seus elementos estão unidos apenas  no espaço e no tempo por uma relação externa e não os penetra a unidade interna do sentido. As partes desse todo, ainda que estejam lado a lado e se toquem, em si mesmas são estranhas umas às outras. Os três campos da cultura humana — a ciência, a arte e a vida — só adquirem unidade no indivíduo que os incorpora à sua própria unidade. Mas essa relação pode tornar-se mecânica, externa. Lamentavelmente, é o que acontece com maior frequência. O artista e o homem estão unificados em um indivíduo de forma ingênua, o mais das vezes mecânica: temporariamente o homem sai da “agitação do dia-a-dia” para a criação como para outro mundo “de inspiração, sons doces e orações”. O que resulta daí? A arte é de uma presunção excessivamente atrevida, é patética demais, pois não lhe cabe responder pela vida que, é claro, não lhe anda no encalço. “Sim, mas onde é que nós temos essa arte — diz a vida —,...

Al negro Raúl lo voy a defender siempre

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  *Por Artigas Osores A mí que no me vengan con eso de que los gurises de ahora no quieren estudiar y que no saben nada. Es verdad que el contexto, la realidad, la educación y incluso los derechos han cambiado mucho, pero querer comparar todo siempre es odioso. Voy a poner el ejemplo del Raulito aquél botija del barrio, amigo de la infancia y la vagancia en las esquinas y las tardes de nuestra adolescencia, para que entiendan que para nosotros los pobres siempre se nos hace más difícil todo. A él como a nosotros nos costaba mucho aprender el significado de las palabras que para nuestros oídos eran nuevas, por eso Raulito o el negro Raúl como lo llamamos cariñosamente hasta los días de hoy, para aprender el significado de esas palabras nuevas se las ponía como apodo a cualquiera que pasara por su frente, para que después alguien lo corrigiera y le explicara el sentido y el significado de la palabra. Como era un poco tímido y otro poco medroso, no le preguntaba a la maestra por temor...

Se você me der a mão

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  *Por Arlindo Cruz, Chiquinho Vírgula e Marquinhos PQD Se você me der a mão pode dar pé Vamos remover montanhas leva fé A vida não dá colher, mas não precisa talher Se o bicho pega a gente solta o bicho E rema contra a maré (vem comigo, cumpadre) Já houve tempo em que se colocava A carroça na frente dos bois Um por todos e todos por um Um mais um vale mais do que dois O povo unido jamais foi vencido Consegue o que quer Se o bicho pega a gente solta o bicho E rema contra a maré, não é? Se você me der a mão pode dar pé, dar pé Vamos remover montanhas leva fé A vida não dá colher, mas não precisa talher Se o bicho pega a gente solta o bicho E rema contra a maré (não é) A vida não dá colher, mas não precisa talher Se o bicho pega a gente solta o bicho E rema contra a maré Já houve gente que perdeu o rumo e não desatou esse nó Andorinha não faz um verão, antes acompanhado que só A união faz a força e a força consegue quem quer Se o bicho pega a gente solta o bicho E rema contra a maré,...

Quem se importa com a Mariazinha?

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  *Por Lucas Berton Toda manhã quando saio pra trabalhar, pelas 6h55min, vejo a Mariazinha sentada no saguão do meu edifício. Quem é ela? O que ela está fazendo ali se ela não mora no nosso prédio? Não sei. Mariazinha é uma anciã muito frágil. Deve ter entre 65 ou 70 anos. A sua aparência repele todos aqueles que vivem obcecados pelas aparências “bonitas” na sociedade do consumo, pelos rótulos, pela fama. É patologicamente corcunda — lembra o seu homônimo de Notre Dame — e visivelmente cansada e sofrida.  Talvez ela tenha ficado com a chave do portão desde aquelas vezes que fazia faxina para a vizinha do apartamento 12 — e, então, quando está indo para outro “compromisso” pelas 6 da manhã, ela para no nosso edifício para sentar e descansar um pouco, já que caminha com grande dificuldade. Ninguém se importa com ela. A sua morte em vida não comove ninguém. Ela não grita, não pede socorro, porque deve estar anestesiada pelo costume de ser ignorada, colocada em segundo...

Companheira de aço

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  *Por Cleverson P. Em meio a violentos estrondos, suas paredes são de aço, aço que estremece, aço que amolece. Poderosas lagartas sustentam esta pesada máquina, mas, no acidentado terreno, cuida-se um explosivo pequeno. Em seu interior, almas vivas, apertadas e vacilantes, que por vastas estepes buscam por algo inconstante. Nas noites congelantes, o calor do motor aquece, e o exalante óleo nos compadece. Entre tanta glaciação, o fogo seria de todo o encanto, se não nos apavorasse tanto. Uma pequena fagulha, para o fim de tudo o que nos entulha. Ao alvorecer, a luz adentra este forte casulo, permeando o escuro e o que nos há de mais puro, e o horizonte se torna um profundo devaneio aos olhos que se perdem por inteiro. À distância, avista-se o encontro usual, no qual o homem se torna mortal. Oh, tal combate feroz! Oh, tal barbárie implacável! Seria de tudo justificável, se do conflito tirássemos algo honrável.

O homem que queria comprar sapatos

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*Por Han Feizi Um homem do reino de Zheng decidiu comprar um par de sapatos.  Pegou a fita métrica, mediu seu pé direito e depois seu pé esquerdo.  Ao sair, esqueceu a fita e as anotações sobre a cadeira.  Mais tarde, quando encontrou os sapatos que queria, deu-se conta do esquecimento e suspirou desanimado: – Puxa, eu me esqueci de trazer as medidas!  Voltou correndo para casa, a fim de buscá-las.  Ao retornar ao mercado, a feira tinha acabado e não havia mais nada aberto, e ele ficou muito triste porque não pôde comprar os sapatos. – Por que não experimentou os sapatos? – alguém lhe perguntou. Ele respondeu que acreditava mais na fita métrica do que nos seus pés .