A queda do muro de Berlim na sala de casa

*Por Lucas Berton Nasci em 1983, no final do século XX. Lembro-me, sobretudo, da minha infância na rua, brincando com a vizinhança, subindo em árvores — quanto mais alta, melhor (se com ameixas amarelas, como as que tinham na frente da casa da dona Lindinha, melhor ainda). As tecnologias eram poucas e muito restritas: Atari, Super Nintendo; gravadores de fita K-7 e filmes rodados em vídeo-cassetes (todas elas vindas de fora). Eram tantas as brincadeiras de rua que não consigo lembrar: pé na lata, taco, esconde-esconde, etc. Um pouco mais para baixo da minha casa (a maior da rua, até aquele momento) estava a "oficina", onde se consertavam carros. Era um terreno quase baldio, cujos muros de entrada tinham de fronte uma carcaça de kombi, onde toda a gurizada brincava de alguma forma e os mais ousados até dormiam, se arriscando. A kombi foi esconderijo, nave espacial, confessionário, salão de festa, dormitório... Nas noites estreladas me sentava no cordão da calçada após um fu...